Há algum tempo se tem alertado para o fato de que o Paraná, paulatinamente, perderá sua condição, sem igual, de área agrícola de convivência de culturas convencionais e transgênicas. Isso porque a base para que essa existência se dê é a chamada segregação, ou seja, a separação dos grãos.
Como se sabe, as sementes não modificadas geneticamente quando misturadas com os grãos modificados acabam contaminadas, passando o conjunto formado a ser considerado transgênico independentemente do percentual desta “mistura”.
Em termos de mercado esta mistura traz duas conseqüências: a obrigatoriedade de pagamento de royalties pelo produtor quando planta a semente e a classificação do produto como transgênico para fins de compra e custos (transporte, testes genéticos, rotulagem, acesso a mercados, etc.).
A recente e extensa pesquisa publicada pela Expedição Safra 2010 revelou que, no caso do Milho, os produtores paranaenses têm optado, por conta dos custos, pela não segregação do milho colhido, entregando toda a produção como se transgênica fosse, em outros termos, misturando-a. Qual a conseqüência imediata disso? O percentual de área convencional plantada despencou, importando o aumento de mais de 30% na participação de transgênicos na área total plantada no Paraná.
As dificuldades do produtor de milho são conhecidas: a polinização acaba facilitando a troca de pólen entre as plantas geneticamente alteradas e as convencionais, a infra-estrutura de segregação é mais precária se comparada a da soja, o rendimento financeiro também não é o mesmo. Além disso, segundo os produtores ouvidos pela Expedição Safra, o custo dos royalties estaria compensando o valor desembolsado com o controle das pragas.
O problema de tudo isso é que a opção não está sendo deixada ao produtor. Ele na verdade é conduzido pela falta de escolha. Assim, uma vez que não alcança um melhor rendimento financeiro com a cultura tradicional, opta pela modificada geneticamente. Atrás desta questão existe a recusa no pagamento de um diferencial no preço (prêmio), bem como o incentivo ao desenvolvimento tecnológico da chamada bioindústria. Neste aspecto é interessante destacar que todas as sementes transgênicas colocadas no mercado à disposição deste produtor destinam-se, exclusivamente, ao controle de praga por sua maior capacidade de suportar elevados índices de herbicidas.
Preocupa-nos, portanto, que a lógica de mercado continue ditando a opção que se concede ao produtor e, em última análise, ao consumidor. Sem nos darmos conta, é eliminada a diversidade em prol de algo que, talvez, não reflita nossas necessidades mais atuais (melhor nutrição, maiores índices protéicos, etc.). Convém pensar a respeito.